Um ato simples resolveu um longo mistério da paleontologia: o fóssil de um animal de meio bilhão de anos era diferente de qualquer criatura conhecida à ciência, algo alienígena. Bastou, no entanto, virá-la de cabeça para baixo para solucionar a questão — o bicho marinho mostrou ser um dos primeiros a desenvolver o que se tornaria uma coluna vertebral, sendo mais “normal” do que parecia.

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Com o formato semelhante a uma fita, o animal é chamado de Pikaia, e foi encontrado nos depósitos antigos do Folhelho Burgess, no Canadá, datando de 508 milhões de anos atrás. Sua cabeça era pequena e adornada por dois tentáculos, e o corpo, com apenas 16 centímetros, era curvado. A primeira descrição do ser foi feita em 1911.

O resto da anatomia era o que tornava tudo misterioso. Cientistas, em 2012, notaram um fio correndo próximo a barriga e o definiram como um vaso sanguíneo, e encontraram uma estrutura ainda preservada tridimensionalmente no fóssil, provavelmente um órgão dorsal.


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Ele era, no entanto, diferente de todos os órgãos vistos em animais vivos ou extintos. Isso mudou com o estudo mais recente, publicado em 11 de junho na revista científica Current Biology.

A forma do animal e suas características, na orientação antiga, não faziam sentido se comparado com outros animais (Imagem: Mussini et al./Current Biology)
A forma do animal e suas características, na orientação antiga, não faziam sentido se comparado com outros animais (Imagem: Mussini et al./Current Biology)

Virando a ciência de cabeça para baixo

As análises dos cientistas — de diversas universidade e museus britânicos, como Cambridge e Oxford — revelaram que a anatomia do animal não fazia sentido porque estudos anteriores o haviam examinado de cabeça para baixo.

O órgão dorsal bizarro ficava, na verdade, na barriga da pikaia, sendo seus intestinos. Já o vaso sanguíneo era um cordão dorsal nervoso, precursor da coluna vertebral, algo comum a todos os animais cordados (filo Chordata).

Aproximação de como seria o corpo e os órgãos da pikaia (Imagem: Mussini et al./Current Biology)
Aproximação de como seria o corpo e os órgãos da pikaia (Imagem: Mussini et al./Current Biology)

A pikaia, inicialmente, foi interpretada como sendo um verme, ganhando a posição de cordada após análise de músculos e posição do ânus. Não se sabia, no entanto, onde a criatura ficaria na árvore dos cordados, o que ficou claro com a nova análise anatômica — ela está na linhagem de fundação dos cordados, apesar de não ter deixado descendentes vivos.

A reavaliação do fóssil não foi, no entanto, tão simples — não foi simplesmente uma questão de “só” virar a criatura. Isso foi feito após estudos recentes em outros fósseis de sistemas nervosos, especialmente de animais do Período Cambriano (541 milhões – 485,4 milhões de anos atrás) descobertos na última década.

Isso mostra aos cientistas como os cordões nervosos e outras partes do sistema nervoso fossilizam. Mesmo que não existam animais vivos descendentes da pikaia, os fósseis recém encontrados dão um campo de referências detalhado para comparação — o cordão nervoso do animal ficou preservado em cor escura, rica em carbono e em forma relativamente quebradiça, assim como nos outros fósseis.

Isso deu motivos para “virar” a orientação e resolver outros problemas com a anatomia anterior, incluindo guelras externas (que agora ficam para cima, como nos axolotes e saltadores-da-lama) e os intestinos, que mineralizam mais rápido que outros tecidos, e por isso ficaram preservados em 3D. 

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