Em um novo estudo, pesquisadores analisaram como as terras são usadas em todo o planeta, e a conclusão foi surpreendente: nos últimos 60 anos, a humanidade mudou o propósito de terras em uma área que equivale aos territórios da África e Europa juntas — e, para completar, eles estimam que o impacto humano na superfície da Terra seja quatro vezes maior do que o apontado por cálculos anteriores.
As mudanças no uso da terra vão desde transformar florestas em áreas para plantações até savanas sendo “convertidas” em pastos — e, se considerarmos todos os eventos de mudanças individuais que aconteceram desde 1960, a extensão das terras modificadas chega a 43 milhões de quilômetros quadrados, que equivale a quase um quinto da superfície terrestre. Esse valor é quatro vezes maior que estimativas prévias.
Os autores do estudo explicam que as terras têm papel central na mitigação das mudanças climáticas, biodiversidade e produção de alimentos: “entender completamente essas dinâmicas é essencial para a criação de estratégias sustentáveis do uso das terras”, diz. Para Karina Winkler, principal autora, a “pegada humana” é maior, e mostra mais dinâmicas do que estimativas anteriores levantaram.
A análise mostrou que, de forma geral, houve uma perda global da área das florestas de aproximadamente 0,8 milhões de quilômetros quadrados, enquanto as plantações e pastos se expandiram em 1 e 0,9 milhões de quilômetros quadrados, respectivamente. Considerando que as plantas e o solo são responsáveis por coletar cerca de 30% do carbono produzido pela ação humana — e esse efeito fica ainda mais forte nas florestas tropicais —, as mudanças na paisagem em larga escala podem significar sucesso ou fracasso nas metas estabelecidas no Acordo de Paris para combater o aumento da temperatura no mundo.
Até agora, a temperatura da Terra já subiu 1,2 ºC acima da marca do período pré-industrial, o que é suficiente para aumentar a ocorrência de tempestades perigosas, o nível dos mares e outros fenômenos perigosos para nossa sobrevivência. Assim, desde 1960, a cobertura florestal do nosso planeta vem sofrendo redução — e o estudo alerta para a redução de plantações nos países do hemisfério norte, enquanto a prática aumenta nas nações do sul principalmente para satisfazer as necessidades dos países desenvolvidos.
Para Winkler, um dos principais motivos pelos quais estimativas prévias não trouxeram um nível de mudança tão alto é que as áreas que mudaram de uso somente algumas vezes foram desconsideradas: “as dinâmicas de uso dessas áreas incluem mudanças na agriculturais, como alternar entre plantações, pastos ou florestamento”, explicou. “As mudanças no uso de terra têm várias faces diferentes, como a expansão urbana, os pastos, florestamento, mineração ou reflorestamento, está tudo à nossa volta”.
Os pesquisadores veem o impacto geral como alarmante, mas também como encorajador: a taxa de desflorestamento e expansão agrícola em áreas naturais nos trópicos são alarmantes, mas também há incentivos ao reflorestamento e à expansão florestal no hemisfério norte. Wrinkler sugere que a crise do novo coronavírus seja um impulso para repensarmos as formas de produção e o papel da cadeia global de suprimentos: “sim, o uso de terra é um problema para o ambiente, mas também pode ser parte da solução”, finaliza.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature.