A acelerada destruição da Amazônia tem ameaçado a sobrevivência de grandes espécies brasileiras, como a onça-pinta e a majestosa harpia. Mais do que isto, os danos a este grande e importante bioma levam a sua surpreendente biodiversidade à beira do colapso. Com o desmatamento das florestas, esses animais não perdem apenas o seu abrigo natural, como também o alimento disponível para eles.
Cientistas têm defendido que a Amazônia esta cada vez mais próxima do chamado ponto de inflexão. O que significa que, uma vez que o colapso no bioma começa, não há mais como pará-lo. O intenso desmatamento com seguidos incêndios florestais podem transformar a maior floresta tropical do mundo em um grande savana, ameaçando sua valiosa biodiversidade com mais de 3 milhões de espécies de animais e plantas.
Uma onça-pintada macho, chamada Ousado, foi resgatada no ano passado, durante um intenso período de queimadas que devastaram o Pantanal — a maior planície alagada do planeta conhecida também pela incrível diversidade de espécies —, após a maior seca na região dos últimos 47 anos. A região, que fica ao sul da Amazônia, tem sido afetada pelo desmatamento da floresta tropical. Quase um terço de todo o Pantanal queimou em 2020, matando inúmeros animais.
Entre os sobreviventes, estava Ousado, um felino de 75 kg, encontrado com queimaduras de terceiro grau nas patas e sem conseguir andar. O animal foi tratado e, então, reintroduzido à natureza com uma coleira de rastreamento. O biólogo Fernando Tortato, do grupo conservacionista Panthera, disse que a destruição do Pantanal está diretamente ligada à da Amazônia.
À medida que mais florestas são tombadas, o ciclo de chuvas que levaria a água ao Pantanal — conhecido como “rios voadores”, que se formam acima da Amazônia — passa a diminuir, segundo Tortato. Nas últimas duas décadas, a área de floresta amazônica na região foi reduzida entre 20% e 25%.
Enquanto isso, na maior floresta tropical, outra espécie enfrenta as consequências desta destruição: a harpia, uma voraz predadora da região, que está passando fome. Essas grandes aves precisam de uma grande área para obter alimento suficiente. Uma recente pesquisa descobriu que elas não conseguem caçar fora das florestas, muito menos sobreviver em regiões com mais de 50% de desmatamento — o qual não para de crescer. “Elas correm alto risco de extinção nesta região por causa do desmatamento e da exploração madeireira”, explicou Roberto Eduardo Stofel, que atua em um grupo de conservação de harpias no Mato Grosso do Sul.
Segundo Stofel, muitos filhotes de harpias têm morrido de fome porque seus pais não encontram alimento suficiente. A ativista florestal Cristiane Mazzetti, do Greenpeace, ressalta a importância de defender a biodiversidade da Amazônia e, consequentemente, do Pantanal, contra estas crescentes ameaças. “A biodiversidade não é algo que possa ser ressuscitado”, acrescentou Mazzetti.