O relato parte de John Bumstead, proprietário da loja RDKL Inc, nos Estados Unidos, que faz reparo e recondiciona MacBooks para serem vendidos novamente.
Afinal, além dos usuários, muitas empresas vendem seus computadores antigos para recondicionadores ao atualizar os equipamentos dos seus escritórios ou quando fecham as portas.
Pelo Twitter, Bumstead disse na semana passada que os MacBooks que trazem o chip T2 com o bloqueio de ativação habilitado “estão inundando os recicladores”, impedindo o processo de recondicionamento dos equipamentos.
Em sua assistência, por exemplo, havia pelo menos quinze unidades do MacBook Air com Apple M1 nesse estado.
O técnico até chegou a brincar com a situação. “Quantos de vocês gostariam de um MacBook M1 de 2 anos?”, tweetou. “Bem, que pena, porque o reciclador local acabou de retirar todas as placas lógicas de bloqueio de ativação e transformá-las em poeira”.
A situação, no entanto, é um pouco mais crítica. Afinal, ao mesmo tempo que o chip oferece benefícios para os usuários, o componente pode impedir que o computador seja levado ao mercado de segunda mão, mesmo que em perfeito estado.
MacBooks são difíceis de serem reciclados
O caso atinge profissionais que dão uma sobrevida nos computadores para comercializá-los na sequência. Conforme apontado na reportagem, ao preparar os equipamentos usados para retornar ao mercado, esses profissionais fazem uma limpeza completa na máquina.
Assim, o usuário recebe o dispositivo pronto para ser utilizado como se fosse novo.
O problema é que este procedimento tornou-se mais complicado nos últimos anos. Afinal, graças à segurança do módulo T2, apresentado em 2018 e que foi incorporado aos processadores Apple M1 e M2, o sistema aciona um bloqueio do MacBook mesmo após a limpeza.
Depois, apenas o proprietário original do computador consegue utilizá-lo novamente, como acontece com um iPhone dado como perdido ou roubado pelo iCloud.
De um lado, isto é positivo. Afinal, se o notebook for roubado, haverá uma solução de última hora para impedir que os criminosos se aproveitem do equipamento. Os hackers também encaram mais uma barreira para impedir ataques aos Macs.
Por outro, evita que profissionais, como Bumstead, reaproveitem computadores que estão em ótimo estado. O técnico até chegou a observar que existem pessoas que tentam ultrapassar a barreira do chip de segurança. Mas este não é o caminho correto.
“Um Mac com bypass é uma máquina hackeada, que reverte para o bloqueio se limpa e redefinida. Portanto, não é ético vender Macs hackeados”, disse ao Motherboard.
Mas tudo isso deixa uma pergunta: se o equipamento foi repassado legalmente aos recicladores, não é melhor entrar em contato com os antigos donos para desativar o bloqueio do iCloud? Bem, não é tão simples assim.
“Proprietários anteriores não retornam ligações e grandes corporações que despejam três mil máquinas assumem que elas foram destruídas”, explicou Bumstead.
Macs são desmontados para vendas as peças
A solução acaba sendo o oposto do desejado por estes profissionais: o desperdício dos computadores. Ao site especializado, o técnico explicou que desmonta esses computadores bloqueados e vende os componentes.
Esta prática também se tornou comum entre outros profissionais do ramo. Se os computadores estão bloqueados, não há o que fazer.
O problema é que este procedimento sequer deveria ser uma alternativa, pois os MacBooks são máquinas com uma durabilidade notável e excelentes candidatos para revenda. Eu mesmo vendi o meu antigo MacBook Air (2017) no ano passado para me ajudar a pagar o notebook novo.
No entanto, cheguei a ter uma pequena dor de cabeça após a venda: o primeiro comprador me devolveu o notebook porque não conseguia acessar o seu iCloud. Para resolver o problema, eu precisei retirá-lo novamente do meu iCloud – até hoje não sei como ele voltou para a minha conta – e resetar a NVRAM.
Só depois desses dois procedimentos, sendo que o segundo não é lá tão simples para leigos, é que o computador ficou liberado para um novo dono. E olha que o MacBook Air de 2017 nem tem o chip T2.
Neste caso, a situação é ainda mais complicada, porque o T2 é uma verdadeira muralha.
Apple se contradiz ao limitar recicladores
Toda essa situação entra em contradição com um dos valores mais defendidos pela Apple nos últimos anos: a defesa ao meio ambiente. Porque não faz sentido algum ter que praticamente descartar uma máquina em perfeito estado.
Especialmente ao considerar que, segundo o estudo Global E-waste Monitor 2020, feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), a quantidade de lixo eletrônico no mundo alcançou o montante de 53,6 milhões de toneladas em 2019. Porém, apenas 17,4% dessa montanha foi reciclada.
No entanto, isto não é nenhuma novidade (ou surpresa). Em 2020, o Motherboard já havia comentado que o chip T2 virou uma tormenta na vida dos recondicionadores. Além disso, ano após ano, torna-se mais difícil reparar os MacBooks.
Bumstead até demonstra como ficou complicado reciclar os notebooks da Apple nos últimos anos:
“Primeiro você tinha certificações com requisitos irrealistas de destruição de dados, e isso fazia com que os recicladores extraíssem as unidades das máquinas e as vendessem sem unidades, mas a partir de 2016 as unidades foram incorporadas nas placas, então começaram a puxar as placas”, explicou. “Agora as placas estão bloqueadas, então eles são essencialmente inúteis. Você não pode nem inicializar MacBooks de 2018 ou mais recentes bloqueados em um dispositivo externo porque, por padrão, o aplicativo de segurança do MacBook desativa a inicialização externa.”
Bom, pelo menos o iPhone vem sem carregador e fone de ouvido. ¯_(ツ)_/¯
Com informações: Motherboard (1 e 2)
Chip de segurança do MacBook atrapalha a revenda do notebook
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