Para os Estados Unidos, limitar o acesso da China a tecnologias de produção de chips é uma forma de evitar que o país avance em áreas militares. Para isso, o governo Biden teria fechado um acordo com Japão e Países Baixos. Esta última região é crítica: a ASML, uma das maiores fabricantes de equipamentos para chips, vem de lá.

Wafer de silício, a base para a criação de chips (imagem: Laura Ockel/Unsplash)
Wafer de silício, a base para a criação de chips (imagem: Laura Ockel/Unsplash)

Os Estados Unidos querem ser menos dependentes de companhias estrangeiras no mercado de semicondutores. Está aí uma das razões para o governo americano apoiar a instalação de novas fábricas da Intel em seu território. Mesmo sendo estrangeiras, TSMC e Samsung também vão construir fábricas de semicondutores por lá.

Também existe uma preocupação de que a China se torne autossuficiente em chips — ou algo perto disso. Esse temor vale não só para a fabricação, mas também para o desenvolvimento desse tipo de componente.

Esse não é um movimento recente. Basta levarmos em conta, como exemplo, que os Estados Unidos aplicaram sanções à SMIC no final de 2020. A companhia é a maior fabricante de semicondutores da China.

Na época, a SMIC era tida como fornecedora em potencial de chips para a também chinesa Huawei, que já sofria restrições comerciais por parte do governo americano.

Mas como Japão e Baixes Baixos entram nessa história?

Suposto acordo com Japão e Baixes Baixos

Além de um possível envolvimento com a Huawei, os Estados Unidos já desconfiavam de uma atuação da SMIC junto a forças militares chinesas.

Segundo o New York Times, o governo Biden teria chegado a um acordo com o Japão e os Países Baixos para evitar que a China avance em chips e, indiretamente, em tecnologia militar. Essa restrição também poderia dificultar o avanço dos chineses em inteligência artificial.

O Japão tem pelo menos duas empresas que podem fornecer equipamentos ou tecnologias para produção de chips: a Nikon e a Tokyo Electron.

Mas a fornecedora mais importante está nos Países Baixos. Hoje, a ASML é considerada a única companhia capaz de fornecer máquinas para as avançadas litografias baseadas em tecnologia ultravioleta, com destaque para a técnica Extreme Ultraviolet (EUV).

A EUV é essencial para a produção de chips cada vez mais miniaturizados. A tecnologia é baseada em um comprimento de onda muito curto, ideal para chips que têm 10, 7 ou menos nanômetros.

Máquinas do tipo são tão sofisticadas que, no início de 2022, a Intel fechou um acordo com a ASML para adquirir modelos Twinscan EXE:5200. Cada unidade saiu por US$ 340 milhões (a quantidade comprada não foi informada).

Máquina EUV da ASML para fabricação de chips (imagem: divulgação/ASML)
Máquina EUV da ASML para fabricação de chips (imagem: divulgação/ASML)

A ASML pode ser a mais afetada

Não há um anúncio oficial sobre o tal acordo dos Estados Unidos com Japão e Países Baixos, mas isso teria acontecido na semana passada. A Bloomberg ressalta, porém, que pode levar meses para as restrições serem oficializadas.

Na prática, alguma restrição já existe. À CNBC, Peter Wennink, CEO da ASML, declarou que a companhia está impedida há algum tempo de fornecer máquinas EUV para a China.

Mesmo assim, a companhia conseguiu fornecer maquinário DUV (menos sofisticado) para empresas chinesas em 2022. Isso fez a China responder por cerca de 15% das vendas da ASML no ano passado. Aparentemente, o novo acordo proibirá até o fornecimento de máquinas DUV.

Perder esse mercado seria desastroso. Não se sabe se haverá algum tipo de contrapartida dos Estados Unidos. Havendo ou não, Wennink dá a entender que esse não é o caminho. “Se [os chineses] não conseguirem as máquinas, eles mesmo as desenvolverão”, disse o executivo à Bloomberg. “Pode levar tempo, mas eles chegarão lá”.

EUA tentam evitar que outros países ajudem China a desenvolver chips