O relatório da entidade que representa o setor mostra um retrato das vendas em todos os países. A começar pela escala global, ao todo, a indústria angariou US$ 573,5 bilhões no ano passado, um aumento de 3,2% em relação ao período anterior, cuja receita foi de US$ 555,9 bilhões.
“O mercado global de semicondutores experimentou altos e baixos significativos em 2022, com vendas recordes no início do ano, seguidas por uma desaceleração cíclica no final do ano”, explicou John Neuffer, presidente e CEO da SIA.
Em regiões, as Américas tiveram um aumento de 16%, o melhor registro de 2022. Todavia, não é possível dizer o mesmo à China que sofreu uma queda de 6,3% no comparativo anual. Mesmo assim, o país asiático angariou uma cifra inimaginável em nossas contas bancárias: US$ 180,3 bilhões.
Mas as coisas podem piorar devido ao atrito entre a China e os Estados Unidos.
Por que todo esse atrito entre China e EUA?
Toda situação está relacionada a uma questão de soberania e segurança nacional, pois estes componentes também são utilizados para construir aparatos militares. Mas, para entendê-la melhor, é preciso voltar alguns anos na história, conforme explicado pela Vox.
O semicondutor é a peça fundamental de todo o avanço tecnológico dos últimos anos. Desenvolvido nos Estados Unidos nos anos 1950, o componente foi inicialmente implementado em equipamentos militares e da NASA, para fomentar a corrida espacial.
Tempos depois, descobriu-se que a invenção também poderia ser levada a eletrônicos de consumo. A partir disso, as empresas passaram a se dedicar a um ritmo comercial, a fim de turbinar a indústria de computadores.
No começo, o design e a produção de chips eram realizados nos Estados Unidos. Mas, por volta dos anos 1960, as últimas etapas da produção foram levadas a países próximos do governo americano, como Coreia do Sul, Hong Kong, Japão e Taiwan, para reduzir custos.
Enquanto isso, durante a Guerra Fria, esses produtos não poderiam ser exportados para rivais, como a União Soviética e a própria China, deixando-os para trás na evolução tecnológica.
Entre os anos 1970 e 1990, os aliados criaram soluções próprias, conduzidas por empresas como a Samsung (Coreia do Sul), Toshiba (Japão) e a TSMC (Taiwan). Depois, com o fim da Guerra Fria, a China começou a construir semicondutores nos anos 2000, tornando-se um dos maiores produtores do mundo.
A grande questão é que a China apenas realizava a última etapa do processo, dependendo da importação de insumos e tecnologias para fabricar os chips. Até que o governo investiu para levar todas as etapas desse processo para o país.
Esta, porém, era só a ponta de um iceberg que estava se aproximando do Oceano Pacífico.
O conflito com os equipamentos da ASML
Para desenvolver chips mais poderosos, é preciso utilizar máquinas para as avançadas litografias baseadas em tecnologia ultravioleta, com destaque para a técnica Extreme Ultraviolet (EUV). E é aí que entra a ASML, empresa dos Países Baixos e a única fornecedora de equipamentos dessa natureza.
Voltando à história, esta máquina era oferecida apenas aos Estados Unidos e aos seus parceiros. Até que chegamos em 2012, quando o Zongchang Yu deixou a ASML e criou duas empresas: uma no país norte-americano e outra na China. Depois, ele foi processado e acusado de roubar informações sobre os equipamentos da empresa.
Em 2019, a polícia americana tentou prender Yu, mas não conseguiu. Na mesma época, o engenheiro apareceu na China como CEO da Dongfang Jingyuan Electron, que criou soluções similares à ASML para criar chips avançados com amparo do governo chinês.
Diante dessa situação, os países rivais da China começaram a reagir. Especialmente os Estados Unidos que, na época, era liderado pelo ex-presidente Donald Trump, conhecido pela ordem para banir a Huawei do país e por aplicar sanções à SMIC, a maior fabricante de semicondutores da China.
A guerra perpetuou após a posse do atual presidente Joe Biden, que restringiu ainda mais a exportação de componentes e serviços para as empresas chinesa. Não à toa, no final de janeiro, o governo americano chegou a fechar um acordo com o Japão e os Países Baixos para evitar que ajudem o país asiático a desenvolver chips.
E aí entra o ponto nevrálgico. Afinal, além de a ASML ser fundamental para produzir chips de 10, 7 ou menos nanômetros, as japonesas Nikon e Tokyo Electron fornecem equipamentos e tecnologias para a produção de chips.
Dessa forma, os Estados Unidos estão tentando impedir que a China seja autossuficiente com a produção de chips. Afinal, este processo não depende apenas da fabricação: também é preciso ter um time complexo para criar designs, softwares e afins antes de rodar as máquinas.
E sem os equipamentos produzidos pela ASML, por exemplo, as fabricantes chinesas não conseguem entrar no páreo.
China vende menos semicondutores, o que pode piorar com as sanções dos EUA
You must be logged in to post a comment.