Se você acha que os anúncios publicitários que aparecem nas redes sociais estão estranhos, saiba que essa percepção está correta. Diante de um cenário econômico instável, grandes anunciantes têm cortado investimentos em mídia. Esse fenômeno vem dando espaço para anúncios mais baratos — e bizarros — em plataformas como Twitter, Instagram e YouTube.

Redes sociais (imagem: Tatiana Vieira/Tecnoblog)
Redes sociais (imagem: Tatiana Vieira/Tecnoblog)

São anúncios que promovem produtos milagrosos ou jogos de qualidade duvidosa, por exemplo. Outros, embora convencionais, promovem produtos ou serviços que não têm relação com o seu perfil de consumo ou trabalho. Recentemente, vi um anúncio no Instagram de “transformação digital na área da saúde”. Eu não trabalho com isso.

Por que anúncios ruins estão se proliferando?

De acordo com o New York Times, por causa de uma combinação de fatores. Um deles é a queda na atividade econômica que afeta companhias de várias partes do mundo. Diante de cenários temerosos, empresas executam planos de redução de gastos. Frequentemente, anúncios publicitários são cortados nesses processos.

Se há menos anúncios circulando, os espaços disponíveis para eles ficam mais baratos, afinal, os preços costumam ser definidos em uma espécie de leilão. Isso dá abertura para a publicidade de produtos ou serviços questionáveis.

Soma-se a isso o fato de que, não raramente, o aspecto bizarro de um anúncio é intencional. O objetivo é chamar a sua atenção. Para isso, vale mostrar mulheres seminuas, ilustrações com cores fortes, pessoas ostentando joias e assim por diante.

Se os anúncios fossem apenas estranhos ou incondizentes com o seu perfil, tudo bem. Mas muitos deles podem ser perigosos. A propaganda de um joguinho pode levar a um malware, assim como o anúncio de uma criptomoeda pode ser um golpe, só para dar alguns exemplos.

Sim, há equipes moderadoras e filtros automáticos para impedir a veiculação de anúncios nocivos, mas nem sempre esses esforços são suficientes.

Sobre anúncios que são estranhos, mas não perigosos, outra causa para o seu aparecimento é o bloqueio de rastreamento. Segundo o New York Times, o reforço da privacidade por parte da Apple e outras organizações como a Mozilla dificultam a coleta de dados que permite a exibição de anúncios direcionados a cada usuário.

Mesmo quando disponíveis, anúncios direcionados (condizentes com o seu perfil) tendem a ser mais caros e, portanto, são evitados por alguns anunciantes. No lugar deles, são veiculados anúncios mais baratos, mas apelativos.

Parece ser pior no Twitter

Anúncios ruins circulam em quase todas as redes sociais. O anúncio abaixo, por exemplo, apareceu para mim no Instagram (e, não, eu não tenho filhos para mandar para o exterior).

Anúncio mal direcionado no Instagram sobre educação de filhos no exterior (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)
Anúncio mal direcionado no Instagram (imagem: Emerson Alecrim/Tecnoblog)

Mas o problema parece ser pior no Twitter. Por lá, a impressão que se tem é a de que é mais fácil se deparar com anúncios questionáveis. Alguns deles são exibidos até com um idioma diferente daquele que você usa na rede social.

A provável causa para esse problema é o sumiço de alguns grandes anunciantes do Twitter. Depois que Elon Musk assumiu a rede social, em outubro de 2022, muitas empresas reduziram ou pausaram a veiculação de anúncios na plataforma. De modo geral, trata-se de uma medida para evitar a associação de marcas ou produtos com as decisões polêmicas de Musk.

De acordo com a empresa de inteligência de mercado Sensor Tower, os dez maiores anunciantes do Twitter gastaram 55% menos em anúncios na rede social no último trimestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano anterior. Alguns não gastaram nada nestas primeiras semanas de 2023.

Vale reforçar que o problema não é exclusivo do Twitter. O YouTube reconheceu uma queda de 8% na receita com anúncios no último trimestre de 2022. Já o banco de investimentos Piper Sandler estima que, no Facebook e Instagram, os preços dos anúncios caíram 24% no mesmo período.

Meta (Facebook e Instagram), Twitter e Alphabet (YouTube) foram procuradas pelo New York Times. A primeira preferiu não se manifestar. O Twitter não deu resposta. Já a Alphabet declarou que tem investido “significativamente” na qualidade dos anúncios e na experiência do usuário.

Seja como for, convém não esperar por melhorias no curto prazo. Por quê? Um levantamento da Federação Mundial de Anunciantes com 43 multinacionais aponta que 30% delas planejam reduzir investimentos com marketing em 2023.

Não é só com você: anúncios no Twitter, Instagram e YouTube ficaram piores