Após a aquisição do TwitterElon Musk mergulhou a rede social em um mar de incertezas com inúmeras idas e vindas. Estas mudanças repentinas causaram um quê de estranheza em algumas situações, mas em outras, viraram polêmicas que até resultaram na redução de anunciantes. Enquanto isso, todo esse cenário de modificações constantes pode ser traduzido em uma única palavra: receio.

Twitter
Twitter (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Afinal, ao preparar planejamentos de mídia, tanto os criadores de conteúdos quanto anunciantes buscam um espaço saudável para aplicar suas estratégias. Mas quando isto não acontece, surge um pé atrás, questionando se este investimento será realmente positivo ou não.

“As marcas estão com receio de ir ao Twitter neste momento porque, por conta de toda essa polêmica que tem rolado, muitas não querem se queimar”, explicou Fernando Kanarski, consultor em marketing digital. “Elas têm muito medo de serem canceladas.”

Para o especialista, estas movimentações constantes fazem com que as empresas tirem o Twitter de qualquer planejamento de mídias sociais. Não à toa, muitas não estão considerando o uso da plataforma neste ano, seja em relação à criação de conteúdo ou para veicular anúncios.

“Quem tinha qualquer projeto, talvez até tenha continuado”, comentou. “Quem estava planejando fazer alguma coisa por lá, deixou em standby.”

Todo esse cenário dificultou o que já era complexo para a rede social. Conforme observado pelo CEO da StartSe, Junior Borneli, o Twitter nunca foi a primeira opção dos anunciantes ou para quem possui uma estratégia voltada para vendas.

“Ele é muito bom para engajar pessoas, para construir reputação, para construir relevância. Mas a primeira opção desse público para a venda de produtos e comércio era Facebook, depois Instagram, Google, e agora começa a ser um pouco TikTok”, disse. “O Twitter é o principal canal para jornalistas, influenciadores e formadores de opinião.”

Mesmo assim, esse cenário de mudanças repentinas pode ser um divisor de águas para quem trabalha diretamente com a plataforma, especialmente os anunciantes e criadores de conteúdos. Afinal, este público sempre prepara suas ações com um planejamento extenso, para alcançar o público desejado.

“As pessoas estavam acostumadas com um algoritmo que se comportava do jeito ABC. E aí Elon Musk mudou essa sequência e adiciona novas letras nessa sopinha todos os dias”, explicou Borneli. “Então, um post que funcionava de um jeito hoje, amanhã passa a ter um comportamento completamente diferente.”

E quando estes parâmetros são frequentemente alterados, o trabalho ganha um quê de incerteza, pois perde-se a previsibilidade. Não à toa, este fator pode virar um impulso inicial para que os usuários e as empresas encontrem outras alternativas no mercado.

E tanta coisa acontecendo no Twitter de Elon Musk que noticiá-las chega a ser difícil (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
E tanta coisa acontecendo no Twitter de Elon Musk que noticiá-las chega a ser difícil (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

Novo selo de verificação causa desconfiança

O Twitter encarou inúmeras mudanças brutas nos últimos meses. Mas o vai-e-vem do selo de verificação segue como o mais chamativo, por garantir um cenário de desconfiança e até abrir uma porta escancarada para trolls da internet.

Tudo começou no fim do ano passado, quando Musk decidiu que o selo azulzinho custaria US$ 20 por mês. Depois, o valor caiu para US$ 8. Não satisfeito, tudo foi colocado de lado e o marcador de autenticidade foi levado ao Twitter Blue, o serviço de assinatura da rede social.

Daí surgiu o selo cinza, que resolveria o papel do selo azul. O ícone cinza foi deixado de lado na sequência até que bateu-se o martelo: quem assina o Twitter Blue, fica com o símbolo azul. Contas oficiais de empresas ficam com o marcador dourado. E os governos com o sinal cinza.

A grande questão é que toda essa confusão resultou em dor de cabeça para várias empresas. É o caso da farmacêutica Eli Lilly, que rapidamente foi alvo de um perfil falso com o selo azul de verificação devido ao Twitter Blue, dizendo que a insulina seria oferecida gratuitamente, derrubando as ações da companhia.

Não à toa, segundo o Washington Post, a empresa mandou cortar todos os anúncios na rede social. Mas, além da fuga de anunciantes, a plataforma precisa lidar com uma questão complicada: confiança.

Segundo Kanarski, muitas empresas já se questionam, normalmente, se vale a pena ou não utilizar a rede social. Afinal, trata-se de uma rede social onde as marcas estão suscetíveis a críticas diretas e públicas. Mas a alteração na dinâmica do selo de verificação piora esse contexto, pois fica mais difícil saber se o perfil é oficial ou não.

Ou seja, o Twitter está indo em direção ao contrária ao mercado, que utiliza o marcador para comprovar identidades. Do outro lado, as demais plataformas liberam o selo somente após uma análise rigorosa que é complexa até mesmo para empresas bem consolidadas, dando mais credibilidade ao selo de verificação.

Elon Musk
Elon Musk no Kennedy Space Center da NASA em 2020 (Imagem: Joel Kowsky / NASA)

Apesar dos apesares, o Twitter resiste

Todas essas polêmicas e alterações inexplicáveis renderam inúmeras críticas. Já há até usuários e especialistas do setor céticos em relação a um futuro promissor da rede social. Mesmo assim, o fim do Twitter não está perto – e talvez nem aconteça tão cedo.

“O Twitter é muito grande. Enquanto tiver famoso e político lá, ele vai se manter”, disse o consultor Fernando Kanarski. “Todos os políticos foram para lá, então virou a assessoria de imprensa oficial de praticamente muitos políticos e muita gente está lá por conta disso. Então, eu vejo a ferramenta ainda se mantendo e não vejo nenhum concorrente que consiga chegar perto dela.”

Ao mesmo tempo, a plataforma não é lá um espaço muito amigável para as marcas, pois a possibilidade de serem criticadas em público é muito maior no Twitter. Por isso, é importante que a rede social crie um ambiente positivo para as empresas e para as pessoas, pois depende tanto dos usuários quanto dos anunciantes para sobreviver.

“Se o Twitter não criar um ecossistema saudável e que seja amigável para as pessoas, o anunciante não vai estar lá”, complementou Kanarski. E como apontou o balanço do segundo trimestre de 2022, o último disponível até o momento, o Twitter arrecadou US$ 1,08 bilhão só com anúncios.

Já a receita com assinaturas do Twitter Blue e outras fontes foi de apenas US$ 101 milhões.

Junior Borneli, CEO da StartSe, observa que o Twitter tem potencial para virar um “lugar melhor no futuro” sob a nova administração, ainda que o presente seja confuso e um pouco caótico. Mas o executivo também enxerga que existe uma mudança em andamento no mercado de redes sociais, destacando a redução de usuários do Facebook.

“[Diante das mudanças recentes,] abre-se um espaço para saber quem vai ocupar esta lacuna que está sendo deixada pelo Facebook”, concluiu Borneli. “O TikTok é o grande desafiante, mas tem um espaço aí para o Twitter se Elon Musk conseguir fazer as coisas como ele pretende.”

Mudanças constantes no Twitter causam receio em anunciantes e usuários