Liberado pela OpenAI em novembro, a ferramenta funciona como um bate-papo. Você escreve o que quer e o robô responde. O que chama a atenção é sua capacidade para fazer respostas elaboradas, articulando a linguagem, sem copiar outros textos.
Nas escolas de Nova York (EUA), o ChatGPT foi simplesmente bloqueado. O Departamento de Educação da cidade considerou que a ferramenta pode prejudicar a formação do pensamento crítico e a capacidade de resolução de problemas.
Sam Altman, CEO da OpenAI, parece estar ciente do que pode acontecer com a educação daqui em diante.
Ele comparou a ferramenta a inovações que mudaram o ensino, como as calculadoras e mesmo o Google. Ninguém mais precisa fazer contas em papel, e memorizar informações perdeu importância, já que elas estão a alguns cliques de distância.
Mesmo assim, o executivo considera que a ruptura do ChatGPT será mais extrema, para o bem e para o mal. Altman diz que professores que conversaram com ele apontam a IA como um ótimo tutor pessoal para cada criança.
O que muda nos trabalhos após o ChatGPT
Janaine Alves, professora do Departamento de Comunicação Social da UFRN, diz que o ChatGPT pode afetar a lisura dos processos de avaliação. Em entrevista ao Tecnoblog, ela conta que pretende mudar as atividades nas suas disciplinas.
Alves comenta que, ao contrário do que muita gente pensa, é relativamente fácil identificar um plágio em trabalhos acadêmicos. “Geralmente, eles desobedecem à métrica que o texto exige, ou você acaba correlacionando com a própria capacidade do aluno, com quem você tem contato direto e diário.”
Com o ChatGPT, ela acredita que vai ficar muito mais difícil saber quem escreveu e quem copiou. “Isso nos exige buscar novos métodos de avaliação e escapar de textos que são produzidos com auxílio de computadores”, conta a professora. “É um retorno a um contexto mais tradicional de produção.”
A professora Ana Lúcia de Souza Lopes, do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, fala ao Tecnoblog que o ChatGPT não vai conseguir fazer todas as tarefas de casa de um estudante.
“[O professor deve] pensar essa ideia da produção de texto não só como uma leitura ou uma revisão, mas com o pensamento crítico e argumentativo”, explica Lopes, que é especialista em educação e tecnologia.
Para ela, isso é suficiente para diferenciar um texto escrito pelo estudante de um feito pela inteligência artificial. “O aluno tem a experiência e a leitura na sala de aula. O robô não experimentou essas vivências que o aluno teve.”
Usando (ou não) a nova tecnologia
Alves ainda não vai usar o ChatGPT em suas aulas ou com seus alunos. “Eu leciono disciplinas voltadas à formação cidadã, no começo do curso, em geral. São alunos que ainda têm muita dificuldade no processo de escrita, e isso acaba influenciando a capacidade de argumentação e raciocínio.”
Por isso, ela acha mais importante desenvolver estas habilidades antes de usar ferramentas. “A gente precisa criar as estratégias para continuar atendendo as nossas missões e nossos objetivos. Nem sempre existe uma relação direta.”
Por outro lado, alguns professores já vão começar a experimentar o ChatGPT nas aulas e nos trabalhos.
Lopes, do Mackenzie, leciona uma matéria chamada Ciência, Tecnologia e Sociedade. Uma das tarefas é pensar em uma forma de usar a tecnologia para solucionar um problema da sociedade. O desafio é feito em sala de aula, mas terá uma novidade nesse semestre: o ChatGPT será um dos integrantes dos grupos de alunos.
“Eu quero que os estudantes saibam fazer as melhores perguntas e dialoguem com aquilo que a inteligência artificial traz. Não significa que eles vão pegar o que a IA traz e aplicar. Eles vão ter que discutir, inclusive com o ChatGPT, se as soluções são viáveis ou não”, explica a professora. “Você pode usar essa tecnologia para ampliar a visão do seu estudante.”
Quem também vai usar o ChatGPT é Ronaldo Lemos, diretor do ITS Rio. Em sua coluna na Folha de S.Paulo, ele diz que, em suas aulas no Schwarzman College, a ferramenta é obrigatória. A nota, porém, é dada pela pergunta feita pelo aluno, não pela resposta entregue pelo robô.
Para Ademar Celedônio, diretor de ensino e inovações educacionais no SAS Plataforma de Educação, o ChatGPT pode ajudar de outras formas.
“Ele pode ajudar muito no planejamento. O professor pode conversar com a ferramenta para descobrir a melhor estratégia, ou ter duas ou três estratégias de como abordar um conteúdo”, comenta, em entrevista ao Tecnoblog.
A inteligência artificial chegou para ficar
Lopes tem um pensamento parecido com o de Sam Altman, CEO da OpenAI. Ela considera que os benefícios de tecnologias anteriores superaram e muito os usos incorretos.
“O impacto da internet foi muito maior que o plágio”, argumenta a professora. “O plágio é uma coisa desse humano que não é educado para usar o recurso de uma forma ética.”
Celedônio também avalia que os alunos vão precisar estar preparados para lidar com o potencial da inteligência artificial. “Ainda hoje, as pessoas fazem buscas no Google e não passam nem da segunda página”, diz ele, para exemplificar a falta de aprofundamento. “O que está na primeira página vira a verdade.”
Lopes acredita que será preciso se preparar para usar o ChatGPT e outras inteligências artificiais do tipo. “Quem usa essa ferramenta precisa saber fazer as melhores perguntas. Se você não tiver pensamento crítico e raciocínio lógico apurado, não vai saber fazer as melhores perguntas.”
Professores se preparam para o impacto do ChatGPT no ensino
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