Para lidar com a crise hídrica, o governo estuda a retomada do horário de verão. No entanto, um manifesto assinado por 26 cientistas é contra a medida. Os profissionais são da área de cronobiologia, ciência responsável por estudar os ritmos e os fenômenos biológicos. Entre eles, estão pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade de São Paulo (veja o manifesto na íntegra mais abaixo).

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Eles defendem que os malefícios para a saúde são maiores que os benefícios econômicos previstos, já que diversas funções do organismo (como sono, apetite e humor) estão intimamente conectados ao ciclo de luz e escuridão.

Sendo assim, uma mudança no horário forçaria o organismo a se readaptar de maneira brusca, confundindo a sincronização do organismo. Para alguns, esse desgaste pode até mesmo resultar em doenças, como: distúrbios do sono, aumento de eventos cardiovasculares adversos, transtornos mentais e cognitivos, e crescimento no número de acidentes de trânsito nos primeiros dias após a mudança.


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No manifesto, é mencionado um estudo realizado em 2017 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que estou o modo como os indivíduos lidam com a transição de horário. Ao todo, participaram 12.467 voluntários e o resultado demonstrou que mais de 45% da população apresentou desconforto relacionado à alteração.

Leia o manifesto

Manifesto contra o retorno do Horário de Verão no Brasil

“O horário de verão foi historicamente introduzido sob a justificativa de economizar energia, ao alinhar as atividades sociais com mais horas de luz natural no final do dia. No entanto, vários estudos científicos apontam que os malefícios à saúde provocados por essa mudança superam os supostos benefícios econômicos esperados, sendo crucial a abolição definitiva do horário de verão.

Ao longo de milhares de anos, os ritmos biológicos humanos estiveram alinhados ao ciclo natural de luz e escuridão, regulando funções essenciais como sono, apetite, funções cardio-respiratórias, desempenho cognitivo e humor. A exposição à luz natural, especialmente pela manhã, é crucial para sincronizar nosso “relógio biológico” com o ambiente.

Com o avanço da vida urbana e o uso de luzes artificiais, especialmente de dispositivos eletrônicos, esse alinhamento natural tem sido prejudicado. A introdução do horário de verão agrava ainda mais essa dessincronia entre o ritmo biológico e os horários social e ambiental. A mudança repentina no “horário social” interfere na sincronização do corpo com o ciclo natural, forçando o organismo a se reajustar.

Portanto, para preservar a saúde e o bem-estar da população, recomenda-se a adoção do horário padrão durante todo o ano, sem ajustes sazonais (horário de verão). Isso evitaria os efeitos negativos promovidos pelo horário de verão e promoveria um maior alinhamento entre os nossos ritmos biológicos e os horários social e ambiental, contribuindo para uma sociedade mais saudável e segura.

O presente manifesto reflete a posição de cientistas e especialistas em cronobiologia que, com base nas evidências científicas mais consolidadas, endossam a abolição do horário de verão. Esse posicionamento é coerente com aquele apoiado por sociedades científicas internacionais, que têm defendido, de maneira consistente, a eliminação dessa prática ao redor do mundo.

Vale ressaltar que o manifesto independe de qualquer posição político-ideológica partidária, sendo fundamentado exclusivamente no conjunto de pesquisas que demonstram os impactos negativos do horário de verão sobre a saúde humana, o bem-estar e a produtividade.

Assinam este manifesto os seguintes pesquisadores:
Cibele Aparecida Crispim (UFU)
Carolina Virginia Macêdo de Azevedo (UFRN)
Claudia Roberta de Castro Moreno (USP)
Daniel Alves Rosa (UFG)
Eduardo Henrique Rosa Santos (UFU)
Elaine Cristina Marqueze (Fundacentro)
Felipe Gutiérrez Carvalho (HCPA)
Fernando Mazzilli Louzada (UFPR)
Fernanda Gaspar do Amaral (UNIFESP)
Giovana Longo-Silva (UFAL)
Gisele Akemi Oda (USP)
Jefferson Souza Santos (UFPR)
John Fontenele Araújo (UFRN)
Leandro Lourenção Duarte (UFRB)
Lúcia Rotenberg (Fiocruz)
Luísa Klaus Pilz (Charité Universitätsmedizin Berlin)
Luiz Menna-Barreto (USP)
Maria Nathália Moraes (UNIFESP)
Maria Paz Loayza Hidalgo (UFRGS)
Mario André Leocadio Miguel (Northumbria University)
Maristela de Oliveira Poletini (UFMG)
Michael Jackson Oliveira de Andrade (UEMG)
Paula Bargi de Souza (UFMG)
Rodrigo Antonio Peliciari Garcia (UNIFESP)
Tatienne Neder Figueira da Costa (UFT)
Tiago Gomes de Andrade (UFAL).”

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