Quando falamos de agricultura, a primeira coisa que vem à cabeça são seres humanos trabalhando em uma fazenda, mas, acredite se quiser, estamos longe de ser os primeiros a exercer a prática — e os pioneiros podem te surpreender. Eles são os insetos, e estes pequenos seres cultivam fungos há dezenas de milhões de anos.

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Uma grande equipe internacional de cientistas está estudando essa simbiose para descobrir a origem da cooperação agricultural entre os seres, que já sabíamos ser bastante específica, ou seja, espécies de formigas costumam cooperar com variedades únicas de fungos em suas fazendas.

O DNA das formigas e dos fungos

Para analisar a agricultura das formigas, uma quantidade exaustiva de DNA foi coletada, envolvendo 276 espécies de formiga e 475 espécies de fungo. Foram incluídos insetos agricultores e seus parentes que não participam da prática, e, envolvendo fungos e formigas, foram mais de 2.000 genes de cada espécie para determinar sua proximidade e quando a separação de seus ancestrais ocorreu.


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As formigas-cortadeiras são um grande expoente dos insetos agricultores, cultivando fungos há milhões de anos (Imagem: Norbert Potensky/CC-BY-3.0)
As formigas-cortadeiras são um grande expoente dos insetos agricultores, cultivando fungos há milhões de anos (Imagem: Norbert Potensky/CC-BY-3.0)

Os genes são importantes porque sua evolução dita a resposta da espécie às condições ambientais, que colocam pressão para adaptação, incluindo a adoção da agricultura. As formigas foram categorizadas de acordo com o tipo de cultivo: algumas criam levedura, outras fungo-coral, e outras são mais sofisticadas e colaboram com fungos adaptados ao estilo de vida de “criação”.

Na última categoria estão incluídas as formigas-cortadeiras, que cortam folhas e as levam para os fungos que cultivam, colhendo os filamentos criados em resposta.

Fora uma única exceção, de formigas-cortadeiras que não têm relação genética específica com outras, todos os grupos estão intimamente agrupados, participando de um grupo maior de insetos que coopera com fungos, mas sem especialização em espécies fúngicas específicas. As fazendeiras de leveduras e de fungos-coral descendem de um ancestral comum.

De parte dos fungos, os grupos também estão geneticamente próximos, com as leveduras cultivadas, por exemplo, estando na mesma família. Todas as espécies cultivadas pelas formigas-cortadeiras estão em um único agrupamento de espécies.

A poeira do asteroide que aniquilou os dinossauros foi essencial para o consumo de fungos que levou à criação de formigas agricultoras (Imagem: Wild Bill/CC-BY-4.0)
A poeira do asteroide que aniquilou os dinossauros foi essencial para o consumo de fungos que levou à criação de formigas agricultoras (Imagem: Wild Bill/CC-BY-4.0)

Os cientistas descobriram, enfim, que a maioria das espécies agricultoras surgiram cerca de 35 milhões de anos depois da última extinção em massa, no final do período Eoceno, cerca de 33 milhões de anos atrás.

Elas descendem de um ancestral comum que sobreviveu à extinção do final do período Cretáceo, há 66 milhões de anos, que matou os dinossauros. Isso provavelmente foi o gatilho para sua evolução, já que a poeira atmosférica parou a fotossíntese por cerca de dois anos, reduzindo as populações de plantas ao mínimo e favorecendo os fungos, que prosperaram com a matéria orgânica morta nas extinções.

As mudanças climáticas do início do Oligoceno, que veio após o Eoceno, geraram uma seca nas Américas tropicais, onde as espécies de formigas agricultoras evoluíram, diminuindo a disponibilidade de fungos na natureza e selecionando as espécies mais adaptadas a propagar os fungos por si só a sobreviverem.

Isso não explica o surgimento das fazendeiras de fungos-coral, que só chegaram 10 milhões de anos depois, mas já é um excelente avanço no campo. Os dados gerados, no entanto, já são muito importantes, e, com eles, os cientistas planejam estudar a base genética para esse comportamento dos insetos, e, para tal, comparar seu genoma com espécies que não cultivam fungos.

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