E se microrganismos puderem sobreviver sob a superfície de Marte protegidos da radiação enquanto se mantêm em bolsões de gelo? É o que propõe um novo estudo liderado por Aditya Khuller, do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA. Para a equipe, talvez o Planeta Vermelho ainda tenha as condições necessárias para a fotossíntese — mas só abaixo da sua superfície e em latitudes médias. 

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A fotossíntese é um processo que permite que plantas e outros seres vivos usem a água e luz para produzir energia. Através de modelos computacionais, os autores descobriram que a quantidade de luz solar capaz de atravessar a água de gelo (feita de uma mistura de neve e poeira) seria suficiente para a fotossíntese em bolsões de água derretida sob a superfície.

Buracos em uma geleira do Alasca; eles são feitos de partículas de poeira que caíram no gelo. Os cientistas suspeitam que uma estrutura parecida pode ser formar em Marte (Imagem: Reprodução/Kimberly Casey CC BY-NC-SA 4.0)

Claro, as partículas de poeira poderiam diminuir a quantidade de luz que chegaria às camadas mais fundas do gelo. Mesmo assim, os autores acreditam que estes blocos congelados são essenciais para a formação de poças subterrâneas: basicamente, a poeira escura iria absorver mais luz solar do que o gelo nos arredores, fazendo com que fosse aquecido e derretido alguns metros sob a superfície.


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Portanto, estas áreas criariam espécies de “zonas habitáveis radioativas”. Poças de água assim já foram encontradas em meio ao gelo na Terra e estavam repletas de seres vivos, como fungos, algas e bactérias — todos que produzem energia a partir da fotossíntese. 

No caso, os autores acreditam que o gelo com poeira permitiria que a luz chegasse a até 3 metros abaixo da superfície. As camadas superiores do gelo iriam evitar que as poças subterrâneas evaporassem, proporcionando também proteção contra o excesso de radiação. Esta proteção é ainda mais importante em Marte, já que o planeta não tem campo magnético para protegê-lo das partículas solares e raios cósmicos.

As estruturas brancas nesta formação em Marte podem ser água congelada e poeira (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech/University of Arizona)

Não estamos afirmando que encontramos vida em Marte, mas sim que acreditamos que as exposições de gelo marciano com poeira nas latitudes médias representam os locais de mais fácil acesso para a busca de vida em Marte atualmente”, disse Khuller, pesquisador que liderou o estudo. 

Para os próximos passos, Khuller e seus colegas querem criar uma versão simulada do gelo de Marte em laboratório para estudá-lo mais detalhadamente. Até lá, ele e outros cientistas já começaram a mapear as áreas onde há mais chances da ocorrência de poças d’água rasas, que podem ser locais de interesse científico para futuras missões tripuladas e robóticas. 

O estudo foi disponibilizado na revista Communications Earth and Environment.

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