Recentemente, um evento importante na química ganhou as manchetes: foi a Regra de Bredt, desbancada por uma equipe da Universidade da Califórnia, com importantes implicações para o campo da química orgânica e da farmacologia. Mas o que isso significa e por que a regra foi refutada, afinal?
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Basicamente, a regra dizia que um tipo específico de organização de moléculas não era possível, já que deixaria os átomos instáveis demais, quebrando-se em seguida. Para a ciência, isso quer dizer que compostos exóticos baseados nessa organização seriam impossíveis — eles poderiam incluir remédios contra câncer, por exemplo.
Segundo Julius Bredt (1855 – 1937), importante químico alemão do século XX, moléculas orgânicas que incluem carbono seguiriam um formato específico. Olefinas — ou alcenos —, hidrocarbonetos usados na fabricação de remédios, possuem uma ou mais ligações duplas entre átomos de carbono, o que faz com que fiquem em um formato plano, chato.
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Isso acontece porque, de acordo com sua regra, moléculas pequenas feitas de até dois anéis que compartilham átomos, ligações duplas de carbono não poderiam ocorrer onde os anéis se juntam (local chamado “cabeça-de-ponte”), já que isso geraria um formato tridimensional, artificialmente torcido o suficiente para deixar a formação muito reativa e instável.
Por que os químicos refutaram a regra de Bredt
A regra foi proposta em 1924, e, apesar de chegar a figurar nos livros de química por todo o mundo, muitos cientistas buscavam refutá-la, já que isso seria benéfico para a fabricação de remédios mais eficientes.
Algumas pesquisas, ao longo das décadas, indicaram que olefinas anti-Bredt (ABOs, que vão contra a regra) seriam possíveis, mas ninguém havia conseguido sintetizá-las. As condições de reação ficavam muito instáveis e perigosas.
Foi então que Neil Garg, da Universidade da Califórnia, exatamente 100 anos depois, conseguiu o feito: junto à sua equipe, ele tratou um composto precursor com fluoreto, o que gerou uma reação de “eliminação”. Átomos foram eliminados da molécula até gerar a infame ligação ABO, com duplo carbono.
Os pesquisadores tiveram, então, que testar vários agentes de captura para manter as moléculas estáveis. Isso permitiu a existência prolongada da ABO 3D, que poderá agora ser usada para confeccionar moléculas mais complexas.
Qual o impacto da descoberta de Neil Garg na indústria farmacêutica?
De forma simplificada, as ABOs são compostos quirais — isso quer dizer que elas são moléculas que não se espelham perfeitamente, ou seja, inverter a ordem das moléculas pode causar efeitos diferentes dos pretendidos. A boa notícia é que a equipe de Garg conseguiu isolar uma ABO enantioenriquecida, produzindo mais de um par espelhado do que um alceno comum.
O significado disso tudo é que as ABOs geradas podem se tornar uma base incomum para compostos farmacêuticos, abrindo a possibilidade de remédios mais complexos.
Eles incluem, por exemplo, o medicamento de tratamento quimioterápico paclitexal, formado por uma molécula de vários anéis difícil de se criar em laboratório. Facilitar o processo ajudará muito na confecção de remédios contra o câncer.
Garg e sua equipe estão buscando outras reações com olefinas anti-Bredt, além de estarem estudando outras moléculas com estruturas consideradas impossíveis. Isso, no futuro, poderá ajudar ainda mais a indústria farmacêutica e facilitar o tratamento de inúmeras doenças.
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