Alien: Romulus reacendeu o interesse dos veteranos e despertou a curiosidade de uma nova geração pela franquia, e, mesmo com várias produções aproveitando o hype para ampliar a mitologia da série, há uma treta de bastidores que explica o fato de haver tantos problemas de tom e continuidade. E aí a 21th Century Fox aproveita uma solução que tem se mostrado eficaz para Star Wars e Predador para adiantar esse processo fora das telonas, mais exatamente nos quadrinhos.
A franquia sempre sofreu com um problema que agora fica mais escancarado, principalmente porque há uma grande necessidade de revisar adequadamente a cronologia. Com mais produções em andamento no cinema e no streaming, é preciso conectar toda a trama de uma maneira menos confusa e caótica.
Os planos da Disney/21th Century Fox envolvem um universo compartilhado retroalimentado pela integração transmídia, assim como a Lucasfilm, a Marvel Studios e a DC Studios vêm fazendo com suas propriedades em histórias que interagem, complementam-se e preenchem/revisam lacunas fora das telonas com ajuda de gibis, séries live-action, animações, games e livros.
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Há uma peculiaridade sobre a razão de Ridley Scott ter abandonado sua criação que virou um clássico instantâneo em 1979 — explico tudo bem mais detalhado sobre isso nesta matéria sobre a vontade do diretor em converter Alien em Prometheus. E isso tem a ver com os problemas de continuidade, inclusive um elemento da mitologia que chegou a ser introduzido no primeiro filme, mas foi descartado na edição final antes de chegar aos cinemas.
E é justamente isso que não faz sentido em Aliens, O Resgate que acaba de ser reparado na HQ que serve como uma conexão entre o final de Alien e o começo de Alien: Romulus: se o Xenomorfo original morreu, como o segundo mostra um exército dessas criaturas sendo que na primeira parte não havia uma Rainha Xenomorfa para gerar os chamados “Ovomorfos” capazes de gerar um novo rebento Facehugger horrível?
Qual é o delito cronológico de Alien?
Bem, só para refrescar a memória, o Alien original de 1979 valorizava muito mais o poder ameaçador de uma máquina assassina extraterrestre astuta e cheia de recursos. No final do filme, a heroína Ripley (Sigourney Weaver) consegue ejetá-la da nave Nostromo para o espaço, onde, aparentemente, a criatura morre.
Atenção para spoilers de Alien: Romulus #1!
Já no filme Alien: Romulus ficamos sabendo que “Big Chap”, como é chamado o primeiro Xenomorfo visto na franquia, conseguiu se alojar na resina de uma pedra espacial. Isso o manteve em um estado de animação suspensa. Contudo, os incautos pesquisadores da Estação Renascença encontraram a peça e tiveram a brilhante ideia de tirar a fera da soneca, apenas para serem dizimados.
Em Alien: Romulus #1, lançado recentemente, a trama mostra mais detalhes de como Big Chap arregaçou a tripulação inteira em um verdadeiro festival de assassinatos. Os quadrinhos, em seguida, mostram que o Xenomorfo original foi utilizado em experimentos de engenharia reversa executada pelo oficial de ciências sintéticas, Rook.
No filme, Rook é quem extrai aquela gosma escura chamada de Black Goo, em um dos Facehuggers — essa parte do filme já conecta a trama com a substância apresentada em Prometheus para recombinar DNA herdado de Alien.
Ou seja, a sobrevivência do Big Chap depois de ser ejetado da Nostromo no Alien original é que permitiu a Rook fazer os experimentos que deram vida aos elementos que deram vida ao Xenomorfo no primeiro filme.
lém disso, no final de Romulus vemos uma horripilante recombinação da gosma escura injetada em uma mulher grávida, em uma das cenas mais estranhas e aterrorizantes do cinema. Essa festa da meleca preta recombinada promiscuamente desde a chegada do Big Chap serve como uma ótima e coerente explicação para a presença de tantos Xenomorfos em Aliens, O Resgate, incluindo uma variação que se tornou a Rainha Xenomorfa.
Romulus também mostrou como o ciclo de vida do Alien se tornou muito mais veloz a cada cepa desde Covenant. No filme original até tinha uma cena deletada envolvendo Ovormorfos, o que explicaria tanto bicho lazarento na sequência. Contudo, somente agora, com essa HQ, é que a escorregada na graxa finalmente ganha um conserto decente para delito cronológico, após “apenas” 45 anos.
Podem apostar que vamos ver mais soluções para as várias tonhadas na continuidade que a franquia cometeu nessas quase cinco décadas de cabeçonas fálicas com mandíbula gotejante guardando uma boquinha redundante louca para moer humanos e jorrar perdigotos derretedores de coisas e pessoas.
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