Pela primeira vez, uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo membros da Universidade de São Paulo e do Instituto Max Planck (Alemanha), descobriu como a floresta amazônica se transforma em uma espécie de máquina de fazer nuvens, importante para o equilíbrio hidrológico do mundo. O mecanismo físico-químico era, até então, desconhecido.
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O complexo sistema de formação de chuvas na Amazônia envolve uma série de fatores, como a produção de nanopartículas de aerossóis, descargas elétricas de raios e reações químicas em altitudes elevadas. É o que indica o estudo recém-publicado na revista Nature.
Para compreender e destrinchar a relação entre esses fatores na maior floresta tropical do mundo, a equipe de pesquisa realizou 136 horas de voo sobre a bacia amazônica entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, chegando a uma altitude máxima de 14 km. Esta altura é duas vezes maior que a montanha Aconcágua, ponto mais alto da América do Sul.
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Amazônia: uma máquina de fazer nuvens
Para além do oxigênio, as árvores da floresta amazônica liberam outros gases conhecidos como compostos orgânicos voláteis (VOCs, em inglês). É o caso do isopreno, que culminará na produção de sementes de nuvens.
Curiosidade: as florestas em todo o mundo liberam mais de 500 milhões de toneladas de isopreno na atmosfera por ano. O “detalhe” é que praticamente um quarto dessa emissão vem apenas da Amazônia.
Parte do isopreno é destruído em poucas horas, mas a outra parte acaba sendo transportada para camadas mais altas da atmosfera (perto do tropopausa), auxiliada por tempestades noturnas.
Desencadeada pela radiação solar, uma série de reações químicas dá origem a uma grande quantidade de novas nanopartículas de aerossóis, os nitratos orgânicos. Inclusive, essa produção de partículas é impactada por reações com óxidos de nitrogênio (que são produzidos por descargas elétricas na alta atmosfera).
Segundo os autores, essas partículas podem crescer e são transportadas por longas distâncias, atuando como núcleos de condensação de nuvens — também podem ser chamados de “sementes de nuvens”. Assim, conseguem influenciar o ciclo hidrológico global.
Delicado equilíbrio global
Embora o mecanismo incrível que permite a Amazônia se tornar uma máquina de fazer nuvens e chuvas tenha sido descoberto apenas agora, ele já está em risco. Isso porque é somente viável enquanto a floresta for preservada.
“As emissões de isopreno dependem da floresta em pé. Elas não ocorrem se a vegetação nativa for substituída por pastagem ou cultura de soja [o que vai acelerar o seu colpaso]”, explica Paulo Artaxo, coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável (CEAS) da USP e coautor do artigo, para Agência Fapesp.
“Com o desmatamento, esse mecanismo de produção de partículas é destruído, reduzindo a formação de nuvens e de precipitação”, acrescenta. “É o que chamamos de realimentação negativa no sistema climático total, pois o desmatamento traz redução de precipitação de maneira significativa por diminuir a evapotranspiração e a produção de partículas, que dependem das emissões de isopreno”, complementa o cientista.
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