À primeira vista parecendo um reles caranguejo marinho, esta espécie é muito importante para a ciência e a medicina — e mostrou incrível resiliência ao sobreviver por centenas de milhões de anos, passando por cinco extinções em massa. São os caranguejos-ferradura, famosos pelo sangue azul e por serem osso duro de roer.
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E é esse sangue azul-cobalto que destaca a espécie (Limulidae spp.) e que a faz tão importante para os seres humanos. A coloração vem da presença de hemocianina, uma proteína baseada em cobre que possui uma função parecida com a da hemoglobina nos mamíferos: ela transporta oxigênio com muita eficiência pelo corpo dos caranguejos-ferradura, permitindo que prosperem na água.
Sangue azul, medicina e ameaças
O sangue dos caranguejos-ferradura não para apenas na hemocianina — suas propriedades antibacterianas são excepcionais, e a comunidade médica presta bastante atenção nisso. Atualmente, o sangue da espécie já é uma ferramenta indispensável na garantia da segurança de produtos médicos.
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Estamos falando do Lisado de amebócitos de Limulus (LAL), um teste derivado do sangue dos caranguejos usado na detecção de endotoxinas bacterianas em vacinas e equipamentos médicos. Curiosamente, uma criatura para lá de antiga, a ponto de ser chamada de “fóssil vivo”, gerou um protocolo que é pilar da segurança médica moderna.
A antiguidade da espécie não é a única coisa impressionante — com 450 milhões de anos, os caranguejos-ferradura sobreviveram a cinco extinções em massa, eventos que eliminaram a grande maioria das espécies vivas na Terra. Isso inclui as seguintes destruições:
- Extinção do Final do Ordoviciano (455 milhões de anos atrás);
- Extinção do Final do Devoniano (375 – 360 milhões de anos atrás);
- Extinção do Permiano-Triássico (252 milhões de anos atrás);
- Extinção do Triássico-Jurássico (201 milhões de anos atrás);
- Extinção do Cretáceo-Paleógeno (66 milhões de anos atrás).
A mais impressionante, talvez, seja a extinção do Permiano-Triássico, também chamada de “Grande Morte”, já que matou cerca de 96% de todas as espécies marinhas da época. A biologia robusta dessas criaturas garantiu sua adaptabilidade e sobrevivência a eventos tão extremos, com mudanças ambientais brutais. Mesmo assim, sua existência pode estar sendo ameaçada.
A questão é que o sangue azul dos caranguejos-ferradura é uma bênção e uma maldição ao mesmo tempo: como é importantíssimo para a medicina, a demanda por seu sangue é alta, o que tem levado a uma queda em suas populações.
Milhões de espécimes têm seu sangue colhido todos os anos, e, mesmo que a maioria seja devolvida ao oceano, seu estado está enfraquecido e sujeito a morrer com maior facilidade.
Junto à sobrepesca e destruição de habitats, os caranguejos-ferraduras enfrentam um risco alarmante — em regiões como a Baía de Delaware, nos Estados Unidos, as populações caíram em até 75% desde os anos 1980.
Há quem trabalhe em soluções, como substitutos artificiais ao sangue, proteção dos habitats onde a espécie põe ovos, desenvolvimento de regulamentos mais restritivos à coleta do animal e educação pública sobre a espécie.
É importante encontrar um equilíbrio entre o progresso humano e o mundo natural, afinal, um animal não é só valioso pelo que pode oferecer a nós, Homo sapiens, mas também pelo seu próprio papel na natureza e no mundo.
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