A história que você vai ler abaixo é digna de um roteiro mirabolante de um filme de guerra e espionagem. E é um dos maiores segredos por trás da DC Comics, editora que não tinha esse nome originalmente e que nasceu de um dos eventos mais estranhos da indústria do entretenimento, com direito a tentativa de assassinato e plot twist.
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Antes de se chamar apenas DC Comics, a companhia se chamava National Allied Publications, uma editora que lançava vários tipos de histórias, originalmente de humor compilado de tiras de jornais, e, posteriormente, tramas de guerra e faroeste — guarde essa informação porque tem tudo a ver com com o estranho evento que desencadeou a fusão desta empresa com um então novo escritório de publicações de enredos policiais e misteriosos do começo do século XX.
As leituras de baixo custo e impressão em papel vagabundo eram chamadas de pulp fiction, e, já nos anos 1930, uma companhia pequena chamada Detective Comics Inc. começou a notar que o público infantojuvenil passou a comprar mais edições — principalmente quando a leitura ficava mais leve com personagens caricatos e enredos detetivescos parecidos com os de Arthur Conan Doyle, escritor de Sherlock Holmes.
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Foi então que, perto dos anos 1940, Bill Finger e Bob Kane criaram Batman, que incorporou a atmosfera e a capacidade dedutiva de Holmes com ação muscular digna de um vigilante. O Homem-Morcego estreou em Detective Comics #27, e, nesse momento, o título mensal já vendia tanto que a fusão da National Allied Publications com a Detective Comics Inc., batizada na estreia de All American Publications, logo mudou de nome apenas para DC Comics — uma homenagem à publicação que a empresa mais vendia no período.
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Ok, depois de relembrarmos a trajetória de criação de uma das maiores editoras de quadrinhos do mundo, podemos voltar às perguntas: o que era a National Allied Publications e como uma tentativa de assassinato mudou a história dos quadrinhos como o mundo a conhecia?
As raízes militares da National Allied Publications
Não precisa ter a dedução analítica de Batman para projetar que a empresa recebeu o nome patriota e energia bélica porque seu fundador, Malcolm Wheeler-Nicholson, serviu na Cavalaria dos Estados Unidos.
Wheeler-Nicholson era um soldado dedicado e trabalhador e, para sua época, até se tornou um dos mais jovens majores a servir. Mas mesmo que ele estivesse fortemente envolvido em missões da França para a Sibéria, ele não tinha medo de criticar o governo e o exército dos Estados Unidos.
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Veja bem, ele era um escritor habilidoso em uma época em que as palavras podiam ter uma impacto muito maior, principalmente porque, embora a distribuição fosse modesta, os profissionais da oratória com mais recursos de narrativa se destacavam em um mar de autores medíocres. E uma carta aberta ao presidente Warren G.Harding, cheia de acusações contra oficiais superiores, veio acompanhada de uma ação judicial contra o superintendente de West Point, Fred Winchester Sladen.
É claro que os militares e o governo dos EUA, que historicamente já não são tolerantes com as mínimas críticas, não ficaram muitos com essa atitude. Wheeler-Nicholson foi levado à corte marcial por sua carta aberta, e as coisas só viriam a piorar depois. No início de 1922, ele foi vítima de um tiroteio enquanto dormia em seus aposentos em Fort Dix.
O major foi baleado por um guarda que alegou ter confundido Wheeler-Nicholson com um intruso. A família de Wheeler-Nicholson, por outro lado, acusou o governo de uma tentativa de assassinato sancionada, devido ao Exército temer o que o major pudesse expor algo observado em seu tempo como oficial de inteligência.
Major sobreviveu e começou a escrever sobre faroeste e guerra
Wheeler-Nicholson sobreviveu, mas sua corte marcial prosseguiu e ele foi condenado, levando o major a renunciar em 1923. Com sua carreira militar encerrada, ele continuou escrevendo, principalmente relatos militares não-ficcionais e faroestes. E eis que o surgimento de histórias em quadrinhos em meados dos anos 1930 o inspirou a seguir isso como uma carreira.
Wheeler-Nicholson fundou uma nova editora de histórias em quadrinhos, a National Allied Publications. Em vez de reembalar histórias em quadrinhos antigas e distribuídas como outras editoras estavam fazendo, a série de Wheeler-Nicholson, New Fun se tornou a primeira HQ a conter material totalmente original nos Estados Unidos.
Infelizmente, as publicações de Wheeler-Nicholson enfrentaram dificuldades de mercado, o que o levou a incorrer em uma série de dívidas para se manter à tona. Livros com material não testado eram difíceis de vender para os leitores e, além das números baixos, as contas se acumularam e os financiadores debandaram.
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Sem outra opção, Wheeler-Nicholson recorreu à editora Independent News Company, onde começou a trabalhar com Harry Donenfeld e Jack Liebowitz. Donenfeld havia trabalhado anteriormente como produtor de histórias pornográficas antes de Liebowitz convencer Donenfeld a recorrer à publicação legítima. E o encontro deles com Wheeler-Nicholson levaria ao seu maior sucesso, mas à queda final do major.
Wheeler-Nicholson abordou Donenfeld e Liebowitz para financiar seus quadrinhos, e os empresários concordaram. No entanto, Wheeler-Nicholson foi informado de que seu próximo título, x , só poderia ser publicado sob uma nova empresa, Detective Comics Incorporated.
Não era incomum que novas empresas fossem fundadas junto com novos títulos, mas isso foi uma grande perda para Wheeler-Nicholson. O ex-militar foi forçado a assumir Donenfeld e Liebowitz como parceiros de negócios na Detective Comics Inc., bem como entregar os direitos das histórias.
Antes mesmo de Batman fazer sua primeira aparição em Detective Comics #27, Malcolm Wheeler-Nicholson foi forçado a sair de sua empresa. Em 1938, Harry Donenfeld processou-o por falta de pagamento enquanto este estava de férias, levando a Detective Comics Inc. à falência e permitindo que Donenfeld e Liebowitz comprassem todos os ativos.
Eles também compraram o que restava da National Allied Publications, dando a Wheeler-Nicholson apenas uma porcentagem de seu título More Fun Comics. Liebowitz e Donenfeld encontraram grande sucesso com Action Comics e Detective Comics, enquanto Wheeler-Nicholson silenciosamente retornou a escrever histórias de guerra.
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